Era novembro de 2017 e o Brasil vivia a antessala do inferno bolsonarista com o ex vice-presidente Michel Temer no poder e a militância neofascista e bolsonarista, já de olho nas eleições do ano seguinte, apavorando as ruas do país com a anuência das forças policiais. Foi nesse contexto que a pensadora feminista estadunidense Judith Butler veio visitar a USP como convidada, a falar das suas obras e ideias. Aqui esteve entre os dias 6 e 10 daquele mês.
Durante uma ida ao SESC Pompeia, uma horda de neofascistas bloqueou as entradas do local protestando contra sua presença e contra uma suposta “ideologia de gênero” que seria, para eles, incentivada pela filósofa.
Nesses mesmos dias de novembro, uma outra pensadora feminista, a equatoriana Cristina Burneo Salazar, também esteve em São Paulo, acompanhando a agenda de Butler, e procurou o Correio da Cidadania a fim de publicar um texto seu conosco, em português, sobre a passagem da filósofa estadunidense na cidade.
Mas o ataque de pânico moral neofascista roubou a cena. Demorou alguns dias para o texto – e então a tradução – ficarem prontos, e logo em seguida estaria publicado o artigo Uma cruz em chamas, em 24 de novembro de 2017. Tradução de Raphael Sanz, editor deste Correio.
O tempo passou e, cinco anos depois Cristina lança um livro reunindo seus escritos, crônicas e ensaios, a datar entre 2013 a 2021. Em meio a tanto material – são 359 páginas divididas em oito partes (a palavra, manifesto; digo teu nome; infância, essa fagulha; a favor do aborto; a vida em movimento; amazônicas; fundamentalismo e misoginia, palavras largas; memória coletiva) – a autora encontrou um espaço, justamente na parte em que discute “fundamentalismo e misoginia”, temas infelizmente tão atuais em nosso país, para o incluir o seu artigo publicado à época conosco. “Uma cruz em chamas” foi para o livro em espanhol e em português.
Para além da presença do nosso artigo, e dos agradecimentos à autora pela lembrança ao Correio, deixamos aqui a página oficial da obra, onde o livro pode ser lido e baixado de graça.
Fica também o anúncio de que Cristina Burneo Salazar é uma pensadora séria e de grande coração, espírito crítico e disposição de luta. A todas e todos que se interessam pelo pensamento feminista sul-americano, fica a dica de leitura.